Movimentos Compensatórios no Agachamento – Brian Sutton

Para se maximizar o recrutamento muscular e minimizar o risco de lesões é necessário que se realize um agachamento com a técnica ideal. No entanto, os indivíduos que não apresentam uma boa mobilidade articular, uma boa estabilidade ou controle neuromuscular muitas vezes exibem movimentos compensatórios durante o agachamento. O movimento compensatório é uma maneira que o corpo faz para se buscar uma forma de executar um padrão de movimento particular com uma menor resistência. Por exemplo, se um indivíduo executa um exercício como um desenvolvimento em pé com barra com extensão lombar excessiva, este é um sinal de que a pessoa não tem uma boa mobilidade nos ombros. A fim de executar o padrão de movimento, a pessoa “toma emprestado” a amplitude de movimento da coluna vertebral e da pelve para compensar a falta de mobilidade através do complexo do ombro (o mais notável é a sensação de aperto através do grande dorsal). A seção seguinte descreve movimentos compensatórios comuns que ocorrem durante um agachamento.

 

Pés Viram para Fora Excessivamente / Pés Achatam / Calcanhares Levantam

 

Se um indivíduo não apresenta uma mobilidade de tornozelo (dorsiflexão limitada), ele ou ela irão provavelmente irão ganhar uma amplitude de movimento adicional alterando a mecânica do pé. Isso geralmente aparece quando os pés viram para fora excessivamente, pronação do complexo do pé/calcanhar e calcanhares levantam do chão.

Quando alguém tem uma falta de dorsiflexão do tornozelo, que ocorre no plano sagital, a amplitude de movimento deve então ter lugar em outro plano (frontal ou transversal). A rotação externa excessiva dos pés (além de 8°) permite que uma pessoa agache a uma profundidade maior porque o movimento está ocorrendo principalmente no plano transversal (Figura 2). Em outras palavras, devido à mobilidade do tornozelo limitada, os joelhos não são capazes de acompanhar ao longo dos joelhos no plano sagital, então o movimento é emprestado de outro plano. Isto pode ser causado por uma rigidez no complexo do calcanhar (gastrocnémio, sóleo) e/ou restrição na articulação talocrual (tornozelo). Algumas pesquisas indicam que a restrição na mobilidade do tornozelo pode causar joelho valgo (bater joelhos), que é muitas vezes um precursor para a dor patelofemoral ou mesmo lesão da ACL (Bell, Oates, Clark, & Pádua, 2013; Dill, Begalle, Frank, Zinder, & Pádua, 2014; Macrum, Bell, Boling, Lewek, & Pádua, 2012). Nesses casos, exercícios de flexibilidade para os tornozelos e mobilização das articulações, principalmente para o tornozelo podem recuperar de 15-20° de flexão dorsal do tornozelo.

 

planos

 

Pronação do pé (pé direito)

A pronação do pé ocorre mais frequentemente em indivíduos que não apresentam uma dorsiflexão adequada do tornozelo. Uma pronação leve é permitida, porem, o indivíduo deve ser capaz de realizar o padrão de movimento flexionando o tornozelo contra o colapso completo do arco. Ao olhar para a postura natural do pé a partir de uma vista lateral, pode-se ver um espaço entre o chão e a parte inferior do pé. Quando o arco colapsa, este espaço não é mais visível (o pé parece rolar para dentro) (Figura 3). Quando se observa, a partir da visão posterior, é fácil ver que o tendão de Aquiles está agora curvado para cima e para baixo na posição vertical. Uma sugestão útil é imaginar uma pequena uva sob o arco do pé. Durante o agachamento, o pé de uma pessoa não deve esmagar esta uva, mas sim, manter a posição natural do arco do pé. Um colapso do arco pode alterar a mecânica do corpo afetando o alinhamento com os joelhos e quadris, incluindo o joelho valgo.

tornozelo

 

Calcanhar Levanta

Levantar o calcanhar do chão durante o agachamento é um movimento compensatório não muito comum, mas ocorre de vez em quando (Figura 4). Em muitos casos, esse movimento compensatório não é observado, simplesmente porque as pessoas usam sapatos com um salto elevado. Um sapato com um salto elevado coloca o pé em flexão plantar. Como tal, a pessoa pode completar o exercício de agachamento com menos grau de dorsiflexão do tornozelo (Macrum et al., 2012). No entanto, realizando um agachamento com os pés descalços pode evidenciar mais essa compensação e chamar a atenção para esta deficiência movimento. A tensão muscular do complexo do tornozelo ou a restrição articular no próprio tornozelo são as principais causas desse movimento de compensação.

Embora cada um destes movimentos compensatórios tenham sido descritos individualmente, é comum ver uma combinação destas deficiências do pé ocorrendo simultaneamente, mais notavelmente uma combinação de pronação do pé e rotação externa.

 

calcanhar-levanta

Joelho Valgo

Indiscutivelmente o movimento compensatório mais significativo a observar durante o exercício de agachamento é valgo do joelho, também conhecido como o deslocamento medial do joelho, ou “bateção de joelhos.” Joelho valgo é um preditor primário de lesão no joelho incluindo dor femoropatelar (dor na parte frontal do joelho) e lesão do LCA. O joelho valgo é uma combinação de adução do fémur e rotação interna em relação à tíbia. Em outras palavras, a canela está apontando para fora e a coxa está em colapso e girando para dentro.

O valgo do joelho pode ocorrer devido a deficiências que ocorrem no tornozelo e/ou quadril (Bell, Padua, & Clark, 2008; Padua, Bell, & Clark, 2012). Tendo em vista que o corpo é uma cadeia cinética, qualquer prejuízo em uma articulação pode afetar as articulações adjacentes para cima e para baixo da cadeia. O joelho é preso entre o tornozelo e o quadril e, como resultado, qualquer padrão de movimento defeituoso que ocorrer em uma dessas articulações podem afetar o joelho. Consequentemente, o valgo do joelho tem sido associado a mobilidade limitada do tornozelo e a fraqueza dos abdutores e rotadores externos, mais notavelmente o glúteo médio. Intervenções com exercícios corretivos para recuperar a mobilidade/estabilidade do núcleo do tornozelo e do quadril parecem ser uma medida eficaz para corrigir o joelho valgo (Bell et al, 2013; Padua, & DiStefano, 2009).

joelho-valgo

Conclusão

O agachamento é um exercício eficaz para melhorar a resistência, força e potência dos músculos dos membros inferioriores. É um movimento composto que envolve muitas ações articulares e musculaturas associadas. Os indivíduos que executam o exercício de agachamento devem conhecer os padrões de movimento alterados mais comuns e possíveis compensações que ocorrem no pé/tornozelo, joelhos e quadris. Ao tomar consciência e, consequentemente, corrigir esses movimentos defeituosos, o iniciante será capaz de evitar lesões desnecessárias e evitáveis durante o exercício.

 

Data de Publicação: 28 de outubro de 2015

 

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