A dor lombar atrapalha a vida de muita gente, além de intervir negativamente no treinamento e na atividades de vida diária (AVDs) a dor lombar também gera compensações que levaram a problemas em outras regiões.
Um estudo de coorte envolvendo 406 pacientes com dor lombar crônica (persiste além do período de reparação do tecido) observou que 43% dos pacientes com dor lombar aguda desenvolveram dor lombar crônica, e apenas um terço desses se recuperou no prazo de um ano.
Começamos a entender que caso você comece a sentir dores esporádicas na região da sua lombar você deve ficar atento ao seu treinamento.
No tratamento de lombalgias, exercícios tradicionais de fortalecimento dos músculos abdominais e extensores do tronco têm sido alvo de críticas por submeter a coluna vertebral a altas cargas de trabalho, aumentando o risco de nova lesão. Falando de forma mais clara, as maquinas de abdominal e os abdominais tradicionais talvez estejam mais aumentando o problema do que os prevenindo. Outro exemplo é a realização de retroversão da pelve (figura abaixo) durante exercícios para a coluna lombar, que aumenta o risco de lesão por comprimir as articulações e aumentar a carga nas estruturas passivas. McGill concluiu que exercícios em série para a lombar, realizados em aparelhos com carga, podem produzir herniações.
Estudos recentes comprovam a eficácia da estabilização segmentar como tratamento para a lombalgia, sendo menos lesiva por ser realizada em posição neutra. A sugestão é trabalhar com exercícios que mais evitem os movimentos do que os façam propriamente dito. Exercícios como as pranchas, pontes, antirrotações na polia são alguns exemplos. A posição da coluna durante os exercícios deve estar na posição neutra, ou seja, respeitando as curvas naturais da coluna.
A literatura estabelece um elo entre lombalgia e escasso controle dos músculos profundos do tronco, em especial o multífido lombar e o transverso do abdome; estudos também indicam os músculos quadrado lombar e diafragma como estabilizadores lombares. Propõem-se assim exercícios de contrações isométricas sincronizadas, sutis e específicas, que atuam diretamente no alívio da dor por meio do aumento da estabilidade do segmento vertebral.
A estabilidade da coluna decorre da interação de três sistemas: passivo, ativo e neural. O sistema passivo compõe-se das vértebras, discos intervertebrais, articulações e ligamentos, que fornecem a maior parte da estabilidade pela limitação passiva no final do movimento. O segundo, ativo, constitui-se dos músculos e tendões, que fornecem suporte e rigidez no nível intervertebral, para sustentar forças exercidas no dia-a-dia. Em situações normais, apenas uma pequena quantidade de co-ativação muscular, cerca de 10% da contração máxima, é necessária para a estabilidade. Em um segmento lesado pela frouxidão ligamentar ou pela lesão discal, um pouco mais de co-ativação pode ser necessária. O último sistema, o neural, é composto pelos sistemas nervosos central e periférico, que coordenam a atividade muscular em resposta a forças esperadas ou não, fornecendo assim estabilidade dinâmica. Esse sistema deve ativar os músculos corretos no tempo certo, para proteger a coluna de lesões e permitir o movimento.
Em uma revisão de literatura foram selecionados 47 artigos e livros publicados entre 1984 e 2006 foi contatado a eficácia da estabilização segmentar nas lombalgias e, principalmente, na prevenção de sua recidiva, por atuar diretamente no controle motor, devolvendo a função protetora dos músculos profundos. Os exercícios propostos, por serem sutis, específicos e em posição neutra, são adequados para o início da terapia, por submeterem as estruturas articulares lesadas a sobrecarga leve.
Exercícios sugeridos no estudo:
Músculos mais fortes parecem não ter valor profilático na redução de problemas lombares. Os músculos de resistência (endurance) têm sido evidenciados como protetores. Maior mobilidade da coluna lombar, ao contrário do que se pensava, aumenta as chances de problemas no segmento. McGill6 sugeriu que o mais seguro modelo de estabilização lombar não seria o exercício de força, mas sim o de resistência, que manteria a coluna em uma posição neutra, enquanto encorajaria o paciente a co-contrações dos estabilizadores.
Referências
FRANÇA, Fábio Jorge Renovato et al. Estabilização segmentar da coluna lombar nas lombalgias: uma revisão bibliográfica e um programa de exercícios. Fisioter Pesq. São Paulo, v. 2, n. 15, p.200-206, 2008.